Título original: Bambi
Ano de lançamento: 1942
Sinopse: Numa floresta os animais ficam agitados com o
nascimento de um filhote de cervo, Bambi, que foi chamado de "Príncipe da
Floresta", pois seu pai é o cervo mais respeitado da região. Bambi,
cresce, faz amizade com outros animais da floresta, aprende como
sobreviver e descobre o amor. Um dia chegam caçadores e ele precisa aprender
como ser corajoso como seu pai, para saber como conduzir outros cervos para um
lugar seguro.
Na floresta, há uma nova grande novidade:
nasce um filhote de cervo, o novo Príncipe da Floresta. Sua mãe lhe dá o nome
de Bambi.
Bambi, em sua inocência, vai crescendo e
descobrindo todos os cantos da floresta com outros filhotes (Tambor, um coelho;
e Flor, um filhote de gambá). Demora para que ele finalmente conheça outros de
sua espécie; na campina, ele conhece Felini e sua mãe, além de outros cervos e
seu próprio pai, o Príncipe, o mais velho e corajoso entre os cervos.
Num fatídico dia de inverno, Bambi e sua mãe
finalmente encontram comida num campo aberto. Porém, os caçadores humanos estão
à espreita e o episódio termina com a morte da mãe de Bambi, que agora terá que
viver com seu pai. Com a chegada da primavera, todos os animais da floresta se
apaixonam, inclusive Bambi. Mas ele terá que descobrir como lutar contra as
ameaças que rondam a floresta para que possa proteger os outros animais.
Acabei de pegar a sinopse no Filmow. Adoro
os comentários do Filmow; justamente, um
deles diz que Bambi é, sem dúvidas, o
mais fraco entre os clássicos da Disney. Que o filme tem cenas jogadas na
tentativa de entreter o espectador com um humor bobo e que, além de duas cenas,
não há muito mais no filme que chegue a acrescentar algo. Vamos ver aqui por
que discordo, em partes, dessa opinião.
Antes de tudo, a história de Bambi, o
Príncipe da Floresta, me parece ser apenas uma fachada, escondendo algo muito
maior. Com a história de coragem e o amor de Bambi por Felini e sua mãe, é
possível conquistar praticamente qualquer criança. Mas, quando abre-se os olhos
para algo além disso, percebo que a história bobinha de Bambi é apenas a
desculpa para uma mensagem, de caráter ecológico e dramático.
Além de Bambi, também vemos a história da
própria floresta sendo contada. Não falo dos outros animais que conhecemos, mas
sim das árvores, dos rios e tudo o que faz parte daquela floresta. Entre
sequências de humor desnecessário e dramáticas, podemos ver a passagem do tempo
do ponto de vista dos seres abióticos (ai, credo!) daquele meio. Tanto que as
imagens são incrivelmente realistas (pelos padrões da época) e a natureza
realmente forma músicas com seus elementos. Bambi talvez tenha nascido no
verão, porque chove muito e durante o dia há flores e muita luz do sol. Depois,
vamos acompanhando sua história com o outono, inverno e, finalmente, a
primavera. Logo, a floresta é um personagem importantíssimo dessa história,
porque, além de ser o cenário de todo o espetáculo, é o que mais encanta e
interfere para os acontecimentos registrados.
“Bambi” é o segundo filme produzido depois do lançamento de “Fantasia”. “Fantasia” parte da premissa de transformar músicas em verdadeiras histórias; o conto de Bambi parece seguir a mesma ideia. São várias as sequências em que quase não há falas mas a música clássica traduz tudo o que os personagens poderiam pensar em dizer. Na primeira vez em que Bambi vai à campina, por exemplo, há o momento da corrida dos cervos machos acompanhado por uma música incrível. Ou o primeiro dia de inverno, quando Bambi vê a neve pela primeira vez na vida. Ou, a minha favorita, a cena em que Bambi mostra seus primeiros sinais da coragem herdada de seu pai e luta com o “estuprador” de Felini (a cena também tem uma incrível sequência de cores). E muitas outras. Música e animação entram num consenso, formando sequências que, mais que analisadas, merecem ser apenas admiradas.
Finalmente, “Bambi” é uma desculpa para um
aviso ecológico. O grande vilão da história é o humano, um ser sem voz ou rosto
(apenas cor, que vemos alteradas nos momentos de sua aparição) que atormenta
não apenas os animais, mas a própria floresta. “É o Homem. Ele está aqui”. Os
momentos de cautela ou talvez aceitação silenciosa que antecedem os ataques
humanos são muito interessantes. Como a primeira vez na campina: a mãe de Bambi
o descreve como um lugar muito bonito, mas o espectador, nos primeiros minutos,
observa
apenas um cenário sombrio e repleto de neblina; depois, quando Bambi
está correndo alegremente para o campo aberto, sua mãe pula na frente dele e o
repreende com um tom de voz extremamente alarmado. Essas cenas, claramente,
anunciam alguma tragédia. Sensação que é aplacada um pouco, já que o Homem não
consegue atingir nenhum animal em específico e ainda presenciamos o heroísmo do
pai de Bambi. Sempre que há avisos de caçadores por perto, as cores parecem
mudar rapidamente, às vezes muito sutilmente (mudando para um tom levemente
mais sombrio) e às vezes drasticamente, como no ataque dos cachorros a Felini.
Além disso, os corvos são presença obrigatória, anunciando o clima mórbido. O
fato de o homem não ser identificado o torna ainda mais aterrorizante e, de
certa forma, o universaliza (podem não ser todos que saem para caçar, mas com
certeza todos nós atingimos o meio ambiente de maneira negativa de alguma
forma). A morte da mãe de Bambi (que não é mostrada explicitamente,
demonstrando, talvez, a banalidade do crime) é um apelo, um exemplo de como essas
atitudes podem causar grandes consequências.
Assim, “Bambi” pode ser um filme composto
por cenas soltas e um humor bobo e desnecessário. Mas o que vemos atrás das
cortinas é muito mais importante que isso. As sequências musicais são muito
mais importantes que isso. As cores e animação de extrema qualidade são muito
mais importantes que isso. No meio de todas as coisas que eu listei, as cenas
soltas de “Bambi”, pelo menos pra mim, perdem sua relevância e apenas compõem
um grande filme apesar de tudo.
Próxima parada: Saludos Amigos, de 1942.
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