terça-feira, 19 de agosto de 2014

[Maratona Disney] #5: Bambi (1941)

Título original: Bambi
Ano de lançamento: 1942
Sinopse: Numa floresta os animais ficam agitados com o nascimento de um filhote de cervo, Bambi, que foi chamado de "Príncipe da Floresta", pois seu pai é o cervo mais respeitado da região. Bambi, cresce, faz amizade com outros animais da floresta, aprende como sobreviver e descobre o amor. Um dia chegam caçadores e ele precisa aprender como ser corajoso como seu pai, para saber como conduzir outros cervos para um lugar seguro.
     Na floresta, há uma nova grande novidade: nasce um filhote de cervo, o novo Príncipe da Floresta. Sua mãe lhe dá o nome de Bambi.
   Bambi, em sua inocência, vai crescendo e descobrindo todos os cantos da floresta com outros filhotes (Tambor, um coelho; e Flor, um filhote de gambá). Demora para que ele finalmente conheça outros de sua espécie; na campina, ele conhece Felini e sua mãe, além de outros cervos e seu próprio pai, o Príncipe, o mais velho e corajoso entre os cervos.
   Num fatídico dia de inverno, Bambi e sua mãe finalmente encontram comida num campo aberto. Porém, os caçadores humanos estão à espreita e o episódio termina com a morte da mãe de Bambi, que agora terá que viver com seu pai. Com a chegada da primavera, todos os animais da floresta se apaixonam, inclusive Bambi. Mas ele terá que descobrir como lutar contra as ameaças que rondam a floresta para que possa proteger os outros animais.

   Acabei de pegar a sinopse no Filmow. Adoro os comentários do Filmow; justamente, um
deles diz que Bambi é, sem dúvidas, o mais fraco entre os clássicos da Disney. Que o filme tem cenas jogadas na tentativa de entreter o espectador com um humor bobo e que, além de duas cenas, não há muito mais no filme que chegue a acrescentar algo. Vamos ver aqui por que discordo, em partes, dessa opinião.
   Antes de tudo, a história de Bambi, o Príncipe da Floresta, me parece ser apenas uma fachada, escondendo algo muito maior. Com a história de coragem e o amor de Bambi por Felini e sua mãe, é possível conquistar praticamente qualquer criança. Mas, quando abre-se os olhos para algo além disso, percebo que a história bobinha de Bambi é apenas a desculpa para uma mensagem, de caráter ecológico e dramático.
   Além de Bambi, também vemos a história da própria floresta sendo contada. Não falo dos outros animais que conhecemos, mas sim das árvores, dos rios e tudo o que faz parte daquela floresta. Entre sequências de humor desnecessário e dramáticas, podemos ver a passagem do tempo do ponto de vista dos seres abióticos (ai, credo!) daquele meio. Tanto que as imagens são incrivelmente realistas (pelos padrões da época) e a natureza realmente forma músicas com seus elementos. Bambi talvez tenha nascido no verão, porque chove muito e durante o dia há flores e muita luz do sol. Depois, vamos acompanhando sua história com o outono, inverno e, finalmente, a primavera. Logo, a floresta é um personagem importantíssimo dessa história, porque, além de ser o cenário de todo o espetáculo, é o que mais encanta e interfere para os acontecimentos registrados.

 
“Bambi” é o segundo filme produzido depois do lançamento de “Fantasia”. “Fantasia” parte da premissa de transformar músicas em verdadeiras histórias; o conto de Bambi parece seguir a mesma ideia. São várias as sequências em que quase não há falas mas a música clássica traduz tudo o que os personagens poderiam pensar em dizer. Na primeira vez em que Bambi vai à campina, por exemplo, há o momento da corrida dos cervos machos acompanhado por uma música incrível. Ou o primeiro dia de inverno, quando Bambi vê a neve pela primeira vez na vida. Ou, a minha favorita, a cena em que Bambi mostra seus primeiros sinais da coragem herdada de seu pai e luta com o “estuprador” de Felini (a cena também tem uma incrível sequência de cores). E muitas outras. Música e animação entram num consenso, formando sequências que, mais que analisadas, merecem ser apenas admiradas.
   Finalmente, “Bambi” é uma desculpa para um aviso ecológico. O grande vilão da história é o humano, um ser sem voz ou rosto (apenas cor, que vemos alteradas nos momentos de sua aparição) que atormenta não apenas os animais, mas a própria floresta. “É o Homem. Ele está aqui”. Os momentos de cautela ou talvez aceitação silenciosa que antecedem os ataques humanos são muito interessantes. Como a primeira vez na campina: a mãe de Bambi o descreve como um lugar muito bonito, mas o espectador, nos primeiros minutos, observa
apenas um cenário sombrio e repleto de neblina; depois, quando Bambi está correndo alegremente para o campo aberto, sua mãe pula na frente dele e o repreende com um tom de voz extremamente alarmado. Essas cenas, claramente, anunciam alguma tragédia. Sensação que é aplacada um pouco, já que o Homem não consegue atingir nenhum animal em específico e ainda presenciamos o heroísmo do pai de Bambi. Sempre que há avisos de caçadores por perto, as cores parecem mudar rapidamente, às vezes muito sutilmente (mudando para um tom levemente mais sombrio) e às vezes drasticamente, como no ataque dos cachorros a Felini. Além disso, os corvos são presença obrigatória, anunciando o clima mórbido. O fato de o homem não ser identificado o torna ainda mais aterrorizante e, de certa forma, o universaliza (podem não ser todos que saem para caçar, mas com certeza todos nós atingimos o meio ambiente de maneira negativa de alguma forma). A morte da mãe de Bambi (que não é mostrada explicitamente, demonstrando, talvez, a banalidade do crime) é um apelo, um exemplo de como essas atitudes podem causar grandes consequências.

  Algumas cenas que chamam a atenção: a) o primeiro dia de primavera. Bambi está crescido e bonito, mas também parece feliz. Considerando que os eventos que mudaram sua vida aconteceram, provavelmente, poucos meses antes, ele parece bem tranquilo e esquecido. É também um choque grande para o espectador, porque acontece alguns segundos depois da última vez que Bambi olha para trás. Mal podemos digerir a informação (e as lágrimas). b) durante a caça na campina (quase no fim do filme) há um grupo de pássaros (sempre os vejo nas animações mais antigas, mas não sei qual a espécie) que tenta se esconder entre o capim. Uma das fêmeas, porém, está completamente aterrorizada e não consegue se conter: voa direto para a morte. Essa ação resuma as nossas próprias atitudes em momentos de pânico e, mais uma vez, torna o humano cruel – ele mata animais inocentes e aterrorizados a troco de quê? c) a cena do incêndio na floresta. Apesar de sua dramaticidade, a cena é extremamente bela e a animação tem um padrão de qualidade impressionante. A presença de Bambi e seu pai é muito bem-vinda para compor o quadro. d) claro, a morte da mãe de mãe. Primeiro por sua dramaticidade – uma cena dessa compor e ser a mais importante numa animação teoricamente direcionada ao público infantil. E por sua simplicidade e significado para a história. Não só para a história de Bambi, mas de todas as crianças que foram traumatizadas pelo episódio (sim!).
   Assim, “Bambi” pode ser um filme composto por cenas soltas e um humor bobo e desnecessário. Mas o que vemos atrás das cortinas é muito mais importante que isso. As sequências musicais são muito mais importantes que isso. As cores e animação de extrema qualidade são muito mais importantes que isso. No meio de todas as coisas que eu listei, as cenas soltas de “Bambi”, pelo menos pra mim, perdem sua relevância e apenas compõem um grande filme apesar de tudo.

   Próxima parada: Saludos Amigos, de 1942.

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