sábado, 16 de agosto de 2014

[Maratona Disney] #2: Pinóquio (1940)

Título original: Pinocchio
Ano de Lançamento: 1940
Sinopse: Sinopse: Gepeto (Christian Rub) é um carpinteiro solitário que, um dia, resolve fazer um boneco de madeira para lhe fazer companhia. Durante a noite, a Fada Azul (Evelyn Venable) dá vida ao boneco, que passa a se chamar Pinóquio (Dickie Jones). Ansioso para se tornar um menino de verdade, Pinóquio se mete em várias confusões, apesar dos constantes avisos de seu amigo Grilo Falante (Cliff Edwards). O boneco tem uma particularidade: sempre que mente seu nariz cresce. Até o dia em que precisa resgatar seu criador, quando ele fica preso na barriga de uma baleia.

   Gepeto é um senhor que vive numa pequena cidade em companhia de seu gatinho Fígaro e um peixinho dourado fêmea, Cléo. Além dos brinquedos de todos os tipos que ele mesmo cria. Até a noite que ele consegue finalizar um boneco com a exata aparência de um menino. Chama-o de Pinóquio, para o desgosto de Fígaro e Cléo. Nesta mesma noite, uma estrela cadente cruza o céu e o maior desejo de Gepeto naquele momento é que Pinóquio se torne um menino de verdade. O cético Grilo Falante, que encontrou aconchego na casa de Gepeto, assiste a essa cena com incredulidade. Como um boneco poderia vir a se tornar um menino de verdade?
   Mais tarde, porém, a Fada Azul aparece para tornar realidade o desejo de Gepeto, já que ele sempre foi um homem bondoso. Porém, a Fada Azul apenas dá vida ao boneco: para se tornar um menino de verdade, ele deveria ser corajoso, altruísta e verdadeiro. Como Pinóquio ainda não sabe discernir o certo do errado, o Grilo Falante é nomeado sua consciência para ajudá-lo na missão.

   Entretanto, logo em seu primeiro dia de vida, Pinóquio já se deixa levar pela opinião de pessoas mal intencionadas e se envolve em várias situações perigosas sem se dar conta de que está agindo erroneamente. Até o momento em que descobre que seu pai, Gepeto, perdeu-se enquanto estava à sua procura e ficou preso na barriga de uma monstruosa baleia. Agora, só cabe a Pinóquio tomar as decisões corretas para ajudá-lo.
   Mais uma vez, fazia tempo que eu não via “Pinóquio” e até cheguei a falar alguns dias atrás que eu acho a animação fraquinha, apesar de a história ser boa. O filme foi inspirado no livro “As Aventuras de Pinóquio”, escrito em 1881 por Carlo Collodi. O romance de Collodi não é exatamente um conto de fadas (se é um romance, dã), mas usa dessa infantilidade justamente para atingir o leitor com sua mensagem. Ao longo do tempo, foram feitas diversas análises psicológicas acerca da história e, tanto Collodi quanto Disney faziam parte de grupos maçônicos, e aspectos dessa cultura foram embutidos na história.
   Bom, depois de tanto, eu fiquei encantada com o filme.
   Pinóquio vem pra mostrar que a Disney não é e nunca foi uma fábrica de “histórias de princesas”. Alguns de seus filmes mais importantes, como “Dumbo”, “Bambi” e “101 Dálmatas” não falam sobre nenhuma princesa. E, mesmo nos filmes com princesas, é muito idiota quem enxerga só a princesinha bonita e não observa o contexto da história, o contexto de produção do filme. A Disney cria histórias sobre a arte (sim, arte!) de sonhar e sobre o profundo desejo de ver nossos sonhos ternarem-se realidade, não importa quais sejam ou por que eles existem.

 Primeiro de tudo, eu fiquei muito intrigada com a figura de Gepeto. Qual é o seu passado? Será que ele sempre foi um homem solitário? Será que é viúvo ou perdeu um filho? Porque o carpinteiro deseja com tanto afinco que Pinóquio se torne um menino de verdade e se dedica tanto a seus brinquedos que temos a impressão de que ele possivelmente já foi pai ou acabou perdendo a oportunidade de ser. Talvez não, mas não consigo imaginar que ele simplesmente cria um boneco e deseja que este se torne real por um mero capricho ou que isso não tenha sido desencadeado por algum outro evento de sua vida.
   “Pinóquio” foi imortalizado e ensina as crianças a serem boazinhas e a não mentirem, porque assim elas serão recompensadas com algo extraordinário um dia. No entanto, a história também reflete o nosso próprio desenvolvimento como seres humanos. Nossa busca por algo que nos identifique, algo que faz de nós o que realmente somos. No início, Pinóquio não tinha ideia do que era a vida e do que era certo ou errado. Ele não tinha personalidade ou sequer um objetivo (porque o objetivo de ser um menino de verdade e as condições para isso ainda pareciam muito abstratos em sua mente). Assim, ele passa a acatar qualquer coisa que as pessoas digam que é certo ou que vai lhe trazer sucesso. Ele aceita a imagem de “vida boa”
que pessoas comuns (o Gato e a Raposa – figuras astutas por natureza, mas que no filme são retratas ao mesmo tempo como espertas e um tanto imbecis. Até notamos quando a Raposa não consegue soletrar o nome de Pinóquio: ele não tem a educação padrão, aquela que supostamente lhe ensina o discernimento necessário para encarar a vida) lhe vendem. Ele não as questiona ou pensa sobre o assunto; ele apenas as segue. Mesmo em sua gaiola no circo, quando ele recebe uma terrível punição por mentira (e assim escapar de suas más decisões) ele não aprende sua lição e acaba sendo levado pelo discurso de outras pessoas, com a promessa de uma vida fácil. É esse tipo de atitude que o leva à Ilha do Prazer, onde mais uma vez a sua educação é negligenciada. Em lugares como a Ilha as pessoas não são ensinadas a pensar por si mesmas; elas apenas podem fazer o que lhes dá mais prazer, não importando que isso seja errado e prejudique a si mesmas e a outras pessoas. Então, Pinóquio não consegue ainda diferenciar o mal do bem, porque todas as pessoas a seu redor fazem as mesmas coisas e isso parece divertido. Ele bebe da cultura de massa. E é isso que o transforma num jumento: um ser que não pode falar ou questionar suas ações ou sequer ser admirado por seu intelecto. O jumento apenas obedece as ordens que lhe são dadas. A Ilha do Prazer pode representar o mundo do crime pelo qual muitos jovens acabam optando; nesse mundo, eles apenas seguem ordens, mesmo que não diretamente. Mas a ordem de que aquilo não é considerado errado.
   Apenas quando Pinóquio percebe o amor que tem por seu pai, ele começa a aprender sobre o que o faz humano. Quando se determina a encontrar Gepeto, Pinóquio deve pensar mais sobre suas ações para que elas o levem até seu objetivo. Assim, por hora, seu amor por Gepeto é o que o faz humano. Tanto que, após salvar o pai, Pinóquio é mergulhado em “água pura”, um processo de purificação, uma promessa de vida nova. É apenas depois de passar por essa purificação que Pinóquio atinge um estado elevado de consciência e passa a ser, essencialmente, humano. Uma referência à cultura cristã, assim como o próprio aprisionamento na baleia.
  
Outra figura que deve receber atenção é o Grilo Falante. Primeiro, o grilo é um animal pequenino e inofensivo. Assim como nossa consciência, o Grilo Falante deve se esforçar para receber atenção. Além de ele ser pequeno, o Grilo também não é perfeito. Ele faz seus pré julgamentos e por vezes pode agir errado. Ele é quase hesitante, não consegue se impor diante de Pinóquio, que não enxerga mais sua consciência, cegado por energia física e conceitos de vida pré concebidos por outras pessoas. Assim, a consciência, além de poder errar, geralmente é esquecida por seu “dono” e, por vezes, incompreendida.
   “Pinóquio” é uma animação encantadora que, mesmo sem todos os seus simbolismos, nos ensina que devemos sempre buscar quem somos de verdade e não seguir pelo caminho mais fácil, pelo caminho que nos é vendido por pessoas que nem se importam com nosso bem-estar. Além das músicas alegres e da clássica “When you Wish Upon a Star” (ouça de novo!) que ficam reverberando na mente por sua beleza e simplicidade. Cenas como a transformação de Pinóquio num menino de verdade ou os discursos da bela Fada Azul. Personagens como o Grilo Falante e Fígaro e Cléo. São o que fazem desse filme um clássico para ser visto várias vezes durante nossa vida, mesmo que não esteja esquecido.

Próxima parada: o subestimado Fantasia, também de 1940.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hey!, se você não comentar, como vou saber que passou por aqui? Deixe sua opinião e faça uma pessoa feliz ~voz campanha de solidariedade~