domingo, 30 de março de 2014

Resenha: Precisamos falar sobre o Kevin

Título original: We need to talk about Kevin
Autor: Lionel Shriver
Páginas: 463
Nota: 4,5/5
Sinopse: Para falar de Kevin Katchadourian, 16 anos – o autor de uma chacina que liquidou sete colegas, uma professora e um servente no ginásio de um bom colégio nos subúrbios de Nova York – Lionel Shriver não apresenta mais uma história de crime, castigo e pesadelos americanos. Arquitetou um romance epistolar onde Eva, a mãe do assassino, escreve cartas ao pai ausente. Nelas, ao procurar porquês, constrói uma meditação sobre a maldade e discute um tabu: a ambivalência de certas mulheres diante da maternidade e sua influência e responsabilidade na criação de um pequeno monstro.



   Pode uma mãe não amar seu filho? Pode um adolescente matar nove pessoas sem um motivo? Já que sim, de quem é a culpa? É dessa mãe fria? Da sociedade que apenas discrimina? Será que há alguma culpa? Qual é a maneira certa ser pai?
   É sobre isso e mais um milhão de coisas que Lionel Shriver precisava falar neste livro. Um milhão, ou talvez apenas uma.
   Eva Katchadourian era uma mulher decidida e bem-sucedida, tinha uma empresa que publicava guias de viagens para jovens sem rumo ou dinheiro. Por isso, ela própria passava meses viajando para fazer suas pesquisas, e acreditava que isso era o que a fazia se sentir livre e a afastava cada vez mais de seu país. País onde estava seu marido querido, que veio muito tarde e que ia contra quase todas as coisas em que ela acreditava. E é por causa dele que decide ter um filho.
   Então, nasce Kevin.
   E mergulhamos em todas as situações que os levaram à quinta-feira, onde Eva tenta procurar respostas e descobrir qual foi seu maior erro: desde as brigas que tem com Franklin para dar seu sobrenome ao filho; as turbulências da gravidez, onde ela já não sente Kevin como seu filho; a primeira infância curiosa e enganadora de Kevin; os primeiros anos de escola, onde vários colegas passam por incidentes desagradáveis; o nascimento de um segundo filho – Celia – que se torna realmente querida por Eva; a pré-adolescência do garoto, apagada pela presença da caçula; o adolescente que tenta fugir do óbvio e se mostra extremamente frio. E sempre a atitude desafiadora e odiosa que Kevin tem com Eva.
   Até a quinta-feira. No dia 8 de abril de 1999, Kevin Katchadourian – que mais tarde ficaria conhecido como KK – reúne nove colegas e uma professora no ginásio de sua escola, além de um funcionário da cantina, e mata nove pessoas com um uma balestra.
   Desde o começo ficamos familiarizados com a natureza indiferente que Kevin tem para com o mundo e as impressões que sua mãe tem sobre ele, o que causa conflitos entre Eva e o marido, que acredita piamente que Kevin é um jovem como qualquer outro, e o defende até mesmo nos acontecimentos mais óbvios.
   Acompanhamos, porém, não o verdadeiro álbum de família que Eva cria, mas sim o seu sofrimento na busca de respostas. Afinal, é isso que nos persegue a vida toda: os porquês. Qual é o sentido da vida? O que devemos fazer para que tudo sempre dê certo? E, quando não dá, POR QUÊ? E quando isso atinge alguém que tem uma vida tão bem definida, e objetivos tão claros, como Eva acredita que tem, os resultados podem ser destruidores para a mente.
   E no final, na verdade nada tem um porquê. Podemos nascer, crescer, nos apaixonarmos, ter filhos, trabalhar, etc etc etc. Podemos fazer tudo isso que nunca nada ficará claro. Nunca chegaremos num consenso sobre qual é o verdadeiro sentido da vida. E, na verdade, se isso acontecer, vai ser muito assustador. Porque é isso que nos move. É em busca desse sentido que muitos seguem o roteiro acima; outros ficam enlouquecidos nessa busca e se predem; outros, como Eva, criam teorias, fazem viagens e tentam de muitas maneiras chegar a uma conclusão.
   Lionel Shriver nos propõe o amor – ou o simples cansaço – como resposta: ninguém consegue viver sozinho, nem com todo o amor-próprio do mundo, e esse parecer ser, também, a fonte dos nossos problemas.

   Mas, sentido? Essa é, talvez, uma palavra muito mais ampla.

"O segredo é que não há segredo. [...] Mas, assistindo àqueles filmes idiotas, entrando naqueles sites idiotas, ingerindo aquelas bebidas idiotas, sugando aqueles cigarros idiotas, trepando com aquelas meninas idiotas da escola, Kevin deve ter se sentido totalmente enganado. E na quinta-feira? Aposto como continuou se sentindo enganado."

"[...] 'Você matou onze pessoas. [...] Olhe nos meus olhos e me diga por quê'. [...] 'Eu achava que sabia', respondeu, taciturno. 'Agora não tenho tanta certeza'"

Um comentário:

  1. você assistiu o filme também? eu assisti esses dias e fiquei um pouco confusa, mas alguns momentos do filme realmente me fizeram pensar que Eva sempre se culpava pelo filho.

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