domingo, 30 de março de 2014

Resenha: Angústia

Título original: Misery
Autor: Stephen King
Páginas: 345
Nota: 5/5
Sinopse: Paul Sheldon, um famoso escritor, tem sua vida transformada em um pesadelo sem fim, quando em uma terrível nevasca perde a direção do carro e sofre um acidente horrível, quebrando uma perna, deslocando a bacia e esmagando o joelho. Mas o pior ainda estava por vir. Pois ele é ajudado por sua fã nº 1, que colocará em cárcere o pobre escritor, até que ele escreva um final feliz para Misery Chastain, sua personagem preferida.








   Paul Sheldon é um escritor de meia idade que fez grande sucesso – principalmente entre o público feminino – com a série de livros “Misery”, que conta a história de uma corajosa mulher que roda o mundo resolvendo crimes entre o amor de dois homens. Mas, ele  se cansou há muito de escrever livros sem profundidade baseados em uma personagem típica e algumas cenas quentes. Por isso, escreveu o último livro da série e matou Misery Chastain. Isso para escrever seu novo livro, “Carros Velozes”: algo completamente novo, que com certeza seria bem recebido pela crítica que tanto o odeia.
   A caminho de sua cidade com o novo livro completo, porém, Paul sofre um acidente que quebra sua perna e também prejudica a bacia e o joelho, deixando-o imobilizado. Por sorte, ele é resgatado no meio da estrada por sua fã número um, Annie Wilkes, uma ex-enfermeira. Ela o leva para sua casa e Paul recebe certos cuidados, mas logo Annie se mostra muito maluca e possessiva. Como, sendo sua fã número um, ela poderia deixar que Paul desse fim em Misery?
   É uma unanimidade que este é um dos melhores livros de Stephen King, certamente escrito em sua Era Dourada, onde ele ainda era aclamado por todos. E não é para menos: King coloca num cenário simples dois personagens extremamente complexos, um conjunto aparentemente complicado de conceitos médicos e uma dose de loucura sanguinária.
   Narrado sempre do ponto de vista de Paul, é evidente desde o início a pessoa repulsiva que é Annie e como Paul a despreza desde o começo. Ela o mantém preso num quarto, controlando sua bebida e água e o viciando em remédios para dor. Porém, quando ela descobre que Misery morreu no último livro de sua série preferida, a tortura se torna mais intensa e sanguinária; algumas cenas – principalmente chegando no clímax – são realmente de dar dor no coração. Porém, também acompanhamos as torturas psicológicas pelas quais os dois passam.
   Annie é esquizofrênica e a obsessão que tem por Paul também lhe causa mal, principalmente por saber do desprezo que ele tem por ela; suas mudanças de humor são constantes e os métodos de dominação que aplica em Paul por vezes vêm de longa reflexão para “fazer o melhor”; Annie é muito religiosa e demonstra uma devoção enlouquecedora pela mãe.
   Por outro lado, acompanhamos o sofrimento de Paul, que sempre foi acostumado a mordomias e pensava que um bloqueio criativo era o pior que podia lhe acontecer. Ao longo das semanas e meses, vemos o escritor passar da raiva ao medo, então ao desespero e à quase loucura decorrente de sua solidão. Paul também passa por torturas físicas que alimentam ainda mais o pavor por Annie e retarda sua tentativa de fuga. E, assim como em “Duma Key”, Stephen King nos leva ao processo de criação de um artista e as turbulências que isso envolve, quando Paul descobre melhor sua capacidade como escritor.
   É um daqueles livros onde a verossimilhança é perturbadora, já que nada impede que alguém como Annie Wilkes apareça na vida de qualquer um de nós, e no livro não há qualquer elemento fantástico digno de dúvida. As cenas de tortura são apavorantes e as descrições da enfermeira, assim como os diálogos entre os personagens, nos leva a uma viagem sobre os degraus da loucura.

   Um livro realmente angustiante.

"Paul começou a rir ainda mais alto. Naquela casa vazia, o Lugar Risonho de Paul lembrava mais a cela de um hospício."

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