segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Resenha: Homem-Máquina

Título original: Machine-Man
Autor: Max Barry
Páginas: 284
Nota: 5/5
Sinopse: Charles Neumann é engenheiro e trabalha em um sofisticado laboratório de pesquisas. Ele não tem amigos ou qualquer tipo de habilidade social, mas ama máquinas e tecnologia. Por isso, quando perde uma das pernas em um acidente de trabalho, Charlie não encara a situação como uma tragédia, mas como uma oportunidade. Ele sempre achou que o frágil corpo humano poderia ser aperfeiçoado, e então decide colocar em prática algumas ideias. E começa a construir partes. Partes mecânicas. Partes melhores. A especialista em próteses Lola Shanks é apaixonada por membros e órgãos artificiais. Quando conhece Charlie, ela fica fascinada por ter encontrado um homem que parece capaz de produzir um corpo totalmente mecânico. Mas as outras pessoas acham que ele é um louco. Ou um produto. Ou uma arma. Em uma sátira sobre como a sociedade se tornou tão dependente da tecnologia, Homem-Máquina narra a estranha e divertida jornada de um homem em busca de aprimoramento.




   Charlie é um cientista. Engenheiro em uma grande empresa, chamada Futuro Melhor, que trabalha como novos produtos tecnológicos. Como cientista, seu cérebro funciona à base de informações exatas, sem muita emoção; e é completamente dependente da tecnologia (como uma avassaladora maioria da sociedade atual): não vive sem seu celular, acha que um minuto é tempo demais para um computador ligar, e em resumo, seu dia não faz nenhum sentido sem ela.
   Até que um dia, por esse seu vício em tecnologia, Charles sofre um acidente no trabalho e tem a perna amputada. Depois do choque inicial e da dificuldade de se acostumar com a prótese que lhe é fornecida, ele começa a ver isso não como uma limitação, mas uma oportunidade de se aperfeiçoar e tornar seu corpo biológico e imperfeito muito mais eficiente. Para isso, ele toma medidas drásticas, que afeta a si mesmo e a todos os que estão a sua volta.

Tirei o telefone da orelha e apertei ENCERRAR. A tela se apagou e voltou à página inicial. [...] Lá estava. Uma ligação recebida. Havia durado 3 minutos e 42 segundos. Fiquei olhando um tempo para aquilo, porque era algo bastante notável. - pág. 42
   
   Homem-Máquina é uma crítica, claro. Uma crítica a sociedade atual, que acredita nos avanços tecnológicos sem pensar nas consequências negativas que isso pode trazer; e quantos avanços tecnológicos temos hoje, todos os dias, sem nem percebermos! Citando o livro, acho que uma das cenas mais engraçadas é quando Charles recebe uma ligação no seu celular; e ele fica indignado!, porque aquilo nunca tinha acontecido, ele só usava o celular para acessar a internet e ver a previsão do tempo. Quero dizer, olha só como a função do celular foi completamente substituída e como ele também substitui muitos outros meios.
   Apesar do humor ácido de Charles Neumann, das reflexões sobre questões morais e existenciais do personagem, e de um romance água-com-açúcar fofo e incomum que recheiam o livro de ótimas emoções para o leitor, acho que a palavra que mais pode o descrever é “perturbador”, talvez. A visão que Charles tem do mundo e dos humanos assusta e assusta principalmente porque sabemos que é o pensamento de muitas pessoas no mundo; e principalmente é o pensamento e o objetivo de muitas empresas que estão em nosso controle.
   E eu nem falei do epílogo, o grand finale.
   Pensando na resenha, me lembrei de uma palestra do jornalista Eugênio Bucci, quando ele fala sobre aquela teoriazinha linda de que o capitalismo sobreviveria mesmo sem nós, humanos, e ele diz como hoje é extremamente fácil imaginar um mundo onde humanos convivem com robôs e até deixam de ser humanos para se tornarem máquinas gradualmente. E eu me pergunto, e a você também: desde quando ficou tão fácil? Quando foi que surgiram os Dmitry Itskov (que baseia seu projeto em causas nobres, mas não deixa de fazer pensar) da vida? E, principalmente, será que isso é mesmo bom para nós, humanos, essencialmente como animais e seres com emoções? (nossa, apelei agora)
   Max Berry vem com um humor incrível, trocadilhos do mundo da engenharia, romances, ação e questionamentos morais tudo num livro só (abarcando toda uma variedade de leitores) para, se não tentar responder a essas perguntas, pelo menos elucidar um pouco a relação que temos hoje com a tecnologia e o nosso provável e talvez assustador futuro com ela. E nos fazer pensar sobre o destino que a ciência nos traz. 

Fiquei me perguntando quando isso tinha acontecido; quando tínhamos começado a fazer máquinas melhores que pessoas. - pág. 60-61

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