Direção: David Lynch
Ano: 1977
Gênero: Terror/ Ficção científica
Sinopse: O filme segue um curto período da vida de Henry Spencer (Jack Nance), um impressor de férias. Henry descobre que sua namorada, Mary X (Charlotte Stewart), deu origem a um deformado e monstruoso bebê. Após um tumultuado e breve período vivendo juntos, Mary deixa o bebê aos cuidados de Henry. Ele tem algumas visões bizarras de uma mulher no seu radiador, e um sonho em que a cabeça de Henry é utilizada para fazer lápis borracha. Estas ocorrências levam Henry a matar o bebê.
Eraserhead polarizada e confunde muitos críticos e apreciadores de filmes mas se tornou um clássico cult. Em 2004, o filme foi considerado “culturalmente, historicamente e esteticamente significativo” pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e selecionado para preservação no National Film Registry. Lynch já chamou-lhe um “sonho de coisas escuras e perturbadoras” e seu “filme mais espiritual.”
Comentário no site Download Cult: "Não é terror, mas tem terror, não é suspense, mas tem suspense, não é drama, mas representa o drama da vida cotidiana que pode assolar a todos nós."
Vamos ignorar todas as semanas que essa porcaria ficou
desatualizada.
Alô amigos, pedófilos e pessoas que estão procurando imagens
no Google Images. Hoje venho falar de um filme que vai foder com suas mentes,
já dizia o título da postagem. Trata-se de Eraserhead, de 1977, dirigido por
ninguém menos que o nem um pouco foda David Lynch. Preparem-se, cause nightmare
is coming.
Bom, Eraserhead se passa na mente de alguém. No começo do
filme, somos apresentados ao “Homem no Planeta” (comumente chamado assim na
maioria das resenhas/sinopses, porém seu papel é completamente implícito no
filme – pelo menos foi pra mim na primeira vez que assisti), que tem várias
queimaduras pelo corpo e parece controlar um segundo homem, de terno e gravata
(suit and tie), que vem a ser nosso protagonista, Henry. Num dado momento, sai
da boca de Henry um tipo de feto abortado ou um espermatozóide gigante, que
acaba por ser lançado num lago pelo Homem no Planeta.
Por esse começo, dá pra perceber que não é um filme comum.
Eraserhead é o primeiro longa de Lynch. É toda a alma do cineasta,
provavelmente.
Depois disso, inicia-se a história realmente. Henry trabalha
numa empresa de impressão e apesar do seu jeito esquisitão e do penteado
ridículo (e deveras assustador) tem uma namorada: Mary. Numa noite, ele é convidado
para conhecer os pais da moça, num dos jantares mais bizarros do cinema: tem um
pai muito esquisito (esquisito mesmo), mini frangos assados vivos e a mãe tendo
um surto muito assustador. Num dado momento, a mãe de Mary puxa o protagonista
num canto e pergunta se ele e a filha já “tiveram relações sexuais” (velha
enxerida!); para surpresa de Henry, ela diz que Mary já teve um bebê proveniente
dessas relações e que os dois devem se casar para poderem pegar o bebê
prematuro no hospital.
Henry: nosso protagonista perturbado, muito bem vestido na pele de Jack Nance
O lindo bebê/bezerro/carneiro/filho do diabo do casal
O irritante e assustador Sr. X, pai de Mary
O interessantíssimo Homem no Planeta, que controla a mente do protagonista
Corta para o minúsculo apartamento de Henry. Mary está
cuidando do bebê, uma criatura completamente deformada (me lembrou O Comilão
Otsanek - boatos de que foi usado um feto morto de um bezerro ou carneiro), que
não quer comer de jeito nenhum, a não ser quando Henry chega com algum tipo de
inseto e dá para a criança. Mesmo assim, à noite é impossível dormir por causa
dos choramingos. O bebê coloca à prova não só a sanidade dos pais
individualmente, mas também a relação do casal, que já era precária, até que
Mary começa a passar a maioria das noites na casa dos pais.
Acredito que esse começo do filme mostra muito bem os medos
comuns de um homem na casa dos trinta, não sei: o medo de conhecer os pais da
namorada, de ter um filho, de não ser um bom, de não conseguir uma vida
estável, das mulheres à solta que são muito mais atraentes que sua própria.
Medo das responsabilidades. Há uma cena em particular (que pra mim foi uma das
mais “chocantes”), que não tem muito a ver com essa perspectiva de
responsabilidades (ou tem, já que eu estou falando disso) em que Henry e Mary
estão na cama, dormindo, Mary muito agitada e empurrando o marido para fora da
cama; Henry desperta e começa a puxar vários daqueles fetos/espermatozóides e a
jogá-los na parede, despedaçando-os.
Uma coisa muito interessante também é a Moça do Aquecedor.
Sim, uma figura bem estranha, com bochechas gigantes e perturbadoras (há até
uma cena semelhante à essa que eu acabei de citar, em que várias “coisinhas”
caem do céu e ela pisa em todas, sorrindo); ela é um refúgio para Henry, e tem
uma mensagem importante: “no céu tudo é perfeito”
Falando em mensagens, além das responsabilidades opressivas,
o filme também mostra não apenas o nascimento, mas também o desenvolvimento de
um ser vivo; temos o bebê monstro, e numa sacada incrível, a direção de arte
coloca uma planta ao lado da cabeceira da cama de Henry (sem vaso, diga-se de
passagem), além de várias folhas e galhos próximos ao aquecedor (onde se
encontra o refúgio do protagonista). Também no início, no mesmo jantar bizarro
onde o problema começa, há uma cadela amamentando vários filhotinhos (um troço
meio estranho, meio jogado na cena).
A Moça do Aquecedor (não falei que as bochechas eram bizarras?): in the heaven everything is fine
E, falando em protagonista, acho que é impossível imaginar
alguém diferente de Jack Nance no papel. Nunca vi nada do ator, mas posso dizer
que toda a loucura que Lynch pretendia no filme; às vezes, enquanto assistia ao
longa, eu olhava bem para as expressões assustadas, sofridas ou indiferentes do
personagem/ator e simplesmente pensava: “cara, você é foda”. Afinal, Eraserhead
é isso: a loucura e a banalidade do mundo. Fala sério, usar o cérebro de um
personagem para fazer borrachinas de lápis (onde o título é divinamente
explicado); só David Lynch.
Sem falar em toda a arte e os efeitos do filme, o que pode
ser percebido principalmente nos minutos finais, onde as imagens fazem uma
confusão na mente de qualquer um, brincando com as luzes e toda a bizarrice já
notada ao longo do filme. E o bebê, cara. Aquele bebê.
Como já vi em várias resenhas e repito aqui, Lynch não quer
que analisemos seu filme, mas sim que possamos senti-lo, que o choque das
imagens possa abrir um buraco em nossa mente e criar uma conexão com a
história. Por isso tudo é muito visual, tudo é explicado (ou não) por imagens,
tanto que os diálogos são poucos e quase insignificantes para o filme em si. E
mesmo assim, acabamos nos afeiçoando e nos identificando com todos os
personagens, até mesmo o bebê (que causa muitas ânsias de vômito) ou o pai de
Mary.
Mais do que bom ou ruim, Eraserhead deve ser analisado
sentido por cada espectador em particular. Um filme que nos mostrou a alma de
um dos melhores diretores do cinema dos últimos tempos (e que nem recebe todo o
valor que merece por parte do público).
Mas uma coisa eu posso dizer com certeza: no céu, tudo é
perfeito.
Um muchas gracias ao blog O Blog que Não Estava Lá, cuja resenha do dito filme me ajudou a perceber coisas que não tinha visto sozinha, como o lance com a cachorra na sala de estar. Sem vocês, essa resenha não seria possível, snif.
Ainda não assisti, mas vou. Valeu pela sinopse.
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