segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Resenha: Heresia


Título original: Heresy
Autor: S. J. Parris 
Páginas: 359
Sinopse: Inglaterra, 1583: o país enfrenta um período conturbado, marcado por conspirações para derrubar a rainha Elizabeth, que é protestante. Muitos de seus súditos estão insatisfeitos com o governo e anseiam pelo retorno do país à religião católica. Em meio a esse clima de conflitos religiosos, o monge italiano Giordano Bruno chega a Londres, tentando escapar da Inquisição, que o acusou de heresia por sua crença num Universo heliocêntrico. O filósofo, cientista e estudioso de magia logo é recrutado pelo chefe do serviço de espionagem real e enviado a Oxford. Oficialmente, ele vai participar de um debate sobre as teorias de Copérnico, mas, em sigilo, deve se infiltrar na rede clandestina dos católicos e descobrir o que puder sobre um complô para derrubar a rainha. No entanto, quando um dos membros mais antigos de Oxford é brutalmente assassinado, a missão secreta do filósofo é desviada de seu curso. Enquanto ele tenta desvendar o crime, outro homem é morto e Giordano Bruno se vê envolvido numa sinistra perseguição. Alguém parece estar determinado a executar uma sofisticada vingança em nome da religião. Mas, afinal, de qual religião? À procura de pistas, o monge percorre os labirintos da biblioteca de Oxford e visita tabernas infames e livrarias misteriosas fora dos muros da universidade, chegando a lugares que ele nunca soube que existiam e fazendo descobertas que poderiam ameaçar a estabilidade da Inglaterra. Envolvido em uma rede de intrigas e traição, ele percebe que às vezes nem mesmo os mais sábios conseguem discernir a verdade da heresia. Alguns, no entanto, estão dispostos a matar para defender suas crenças. Baseado em fatos reais da vida de Giordano Bruno, Heresia exigiu uma pesquisa minuciosa da autora, que investigou a fundo a trajetória do monge e o contexto político e religioso da época em que ele viveu. O resultado é um suspense histórico repleto de reviravoltas surpreendentes


   1576. Na Itália, o monge Giordano Bruno é pego na latrina lendo um livro proibido pela Inquisição. Considerado um herege, Bruno é obrigado a fugir para não ser atirado às chamas. Assim, fica alguns anos dedicando a sua vida à fuga da Santa Inquisição.
   Sete anos depois, Bruno é representante do Rei Henrique da França numa viagem à Inglaterra. A função do filósofo é ajudar o ministro Walsingham a encontrar possíveis traidores da Rainha Elizabeth e, conseqüentemente, da Igreja Anglicana em Oxford. Como regra, oficialmente ele estará lá para um debate com o diretor da Universidade, mas deve agir com cautela para descobrir os que conspiram para derrubar a rainha.
   Em menos de um dia de sua estada, uma morte brutal acontece nos arredores da faculdade: um dos professores – e amigo de um outro professor considerado traidor da rainha – é morto pelo ataque de um cachorro selvagem. Há vários suspeitos, mas é difícil selecionar quais e os motivos que levariam esse suspeito a cometer tal crime. Até que acontece um outro assassinato. E outro.Os assassinatos parecem seguir um padrão: mártires; os mortos são assassinados exatamente como os santos do livros de Foxe – um amor do diretor Underhill. Fica claro, então, que o motivo não passa de uma conspiração religiosa; mas ainda se tem poucas pistas para encontrar um forte suspeito, ainda mais quando se sabe que as duas religiões caminham juntas quase sem se dar conta disso.
   Visitando lugares estranhos, fingindo voltar suas crenças à antiga religião e caminhando pelas entranhas dos segredos e mentiras da antiga religião na Inglaterra, Bruno descobre que muitos ainda são fiéis à Igreja Católica e que matar é pouco quando se quer defender uma ideia na qual acredita. No meio dessa verdadeira guerra de crenças, parece impossível discernir a verdade da heresia. Parece impossível decidir em que ou em quem acreditar, mesmo quando os fatos parecem estar bem embaixo do seu nariz. Bruno ainda descobre que tem que escolher entre entregar sua nova “paixonite” às garras dos torturadores ou contar a verdade sobre os conspiradores que pretendem acabar com a religião anglicana.
   Narrado em primeira pessoa, Heresia é baseado em fatos reais do grande filósofo da Idade Média Giordano Bruno. O fato de ser narrado em primeira pessoa já lhe dá um ponto negativo pra mim; me pareceu que eu estava conversando com um amigo inteligente de mais, e talvez a autora quisesse justamente que isso acontecesse, estabelecer uma relação de amizade entre leitor e personagem, mas receio que isso não tenha funcionado comigo. Não parecia O Giordano Bruno, sabe?
   É uma resenha difícil de escrever, assim como todos os livros de suspense, porque parece que uma palavra errada na linha errada pode entregar toda a história e causar desinteresse. 
   A parte histórica ficou muito bem colocada, o que é difícil considerando a complicada situação política da época. A Inglaterra já havia sido Anglicana uma vez, depois voltou para o catolicismo e a Anglicana voltou com a rainha Elizabeth, o que deixou muitos fiéis à antiga Fé e, consequentemente, muitos hereges. A época da Santa Inquisição, da tortura, da ignorância, da luta dos cientistas e filósofos por um espaço menos hostil a suas idéias.   A autora conseguiu colocar toda a desigualdade social e toda a loucura que rondava as pessoas naquela época, toda a paranoia e espionagem. 
   Os personagens também foram bem colocados, com exceção, acho, de Giordano e Gabriel Norris (ou Jerome Gilbert). Esses dois poderiam ser mais bem elaborados. Também encontrei uma cena um tanto incoerente, que não vou citar aqui por ser considerada por mim um spoiler brabo.
   Enfim, Heresia é um suspense histórico incrível, com romance (sim, temos amores na medida certa), questionamentos importantes sobre a religião e sobre a época em questão. Sobre o modo como a ignorância reinou por tanto tempo e como isso e a guerra entre religiões afetou vida e países inteiros. Aliás, por que será que essa guerra existe até hoje? Um deus não é o suficiente para o ser humano mesquinho? O seu deus estar no meio de vários outros significa que ele é menor, ou que o deus dos outros o seja? Ter uma religião significa que ali também está a verdade? Questionar virou um artigo de luxo? A religião, então, é mesmo uma salvação ou apenas mais uma desculpa para a ignorância? Assim, serão os deuses também apenas uma desculpa?
Nota: 4/5

Quotes:
“- [...] Entenda bem, se eu tivesse uma filha, não daria a ela essa liberdade, porque a mente das mulheres não foi feita para a aprendizagem.” – página 160
“– Então é provável que tenha sido um dos plebeus ricos – disse, num tom que não foi ressentido, apenas resignado, como se ele houvesse aceitado, fazia muito tempo, o fato de que os ricos viviam segundo leis diferentes e de que era inútil esperar mudanças.” – página 212
“- Pensei que você tivesse deixado de acreditar em Deus – comentei, com um sorriso.
 - O que tem a Igreja a ver com Deus?”– página 220
“Olhei por um momento para suas costas largas e nuas, para a massa confusa de carne dilacerada e ensanguentada. Alguns ferimentos ainda estavam em carne viva e deles brotava líquido, nos pontos em que os ganchos de metal do chicote haviam arrancado grandes nacos de pele, enquanto outros iam cicatrizando sobre feridas mais antigas. Em minhas viagens pela Itália, eu vira penitentes muitas vezes, porém tornei a me assombra com a idéia de que um ser vivo pudesse infligir tamanha crueldade contra o próprio corpo em nome da expiação dos pecados.”
   Heresia faz parte de uma trilogia, mas ainda não sabe-se se a Arqueiro irá publicar os livros restantes aqui no Brasil.

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