sábado, 4 de agosto de 2012

Sob a ponte

    Sob a ponte


  "Oh, Michael", saiu o grito seguido por um ofego.
  E Edward acordou, tão ofegante quanto Cathy estava em sonho. Olhou ao redor, tentando entender por que estava num hotel sujo e cheirando a mofo, com uma prostituta ressonando ao seu lado. E então se lembrou. Não era um sonho, e sim uma lembrança. Uma terrível lembrança.

O monstro da depressão se apoderou dele rapidamente, exatamente como no dia anterior. Um aperto se formou em seu coração, seu estômago se tornou uma máquina de centrifugar. E, antes que pudesse chegar ao banheiro, tudo o que tinha comido saltou de sua boca, com um som tão nojento quanto a própria substância.
  A prostituta se remexeu ao seu lado, mas continuou de olhos fechados. Ed não poderia dizer se estava realmente dormindo, muito menos o que os dois tinham feito em sua noite de bebedeira e angústia. Assim como todas as noites depos que...
  Não, não valia a pena pensar nisso de novo, de novo e de novo, até que as lágrimas surgissem em seus olhos e ele corresse procurar algo que pudesse dar fim a tudo aquilo.
  Ao invés disso, saltou da cama, pisando em su próprio vômito sem que percebesse e quase soltando o que restava em seu estômago. Foi ao banheiro, tentando ignorar o aparelho de barbear que estava sobre a pia. Tomou um banho, esperando a água fosse ao ralo junto com suas dores e lembranças.
  As roupas estavam todas espalhadas pela escada, e isso fê-lo sorrir. Como adorava as surpresas da esposa.
  Sua roupa estava completamente amassada e cheirando a álcool, mas quem se importaria?
  A prostituta ficou deitada na cama até ouvir a porta bater. Mais tarde, quando a polícia fosse lhe interrogar, diria que os dois apenas treparam por uma noite e ela levou-lhe a carteira por que Ed se recusou a pagar por seus serviços.
  - Ei, Ed!, estávamos esperando por você.
  Que todos os deuses sejam amaldiçoados. Joe e Maurice estavam esperam-no fora do hotel. Joe com um largo sorriso no rosto queimado e Maurice com uma nítida expressão de pena. Não para menos; não havia espelho no quarto do hotel, mas Ed sabia que estava com a pior aparência que um animal poderia ter.
  Edward apenas continuou a andar. Ficaram em silêncio até chegar à ponte. Então, Joe, em sua amizade e ingenuidade, disse:
  - Ei, amigo. já está tudo bem, certo? Esqueceu a história com a Cathy, não é mesmo?
  Ele subiu as escadas, mas parou à frente do quarto ao ouvir alguns sons curiosos. Abriu a porta apenas o suficiente para poder ver o que se passava no cômodo. "Oh, Michael", saiu o grito seguido por um ofego. E Cathy subia e descia sobre o corpo de Michael, seu próprio irmão gêmeo. Incesto! O corpo suava e a expressão no rosto era de puro tesão. "Não pare, querido, eu estou quase lá". Ed não pôde ouvir e ver muito mais, pois acabarara de cair inconsciente no chão.
  Sem que os dois amigos percebessem, Edward parou de andar. Alguma coisa dentro de si o fazia respirar com dificuldade. Podia ouvir as vozes de Joe e Maurice, mas não distinguia o que diziam. Aliás, não distinguia nada a sua volta. Só havia o desespero. Ouviu um grito e mal percebeu que saia de sua própria boca. Então, antes que percebesse o que seu corpo estava fazendo, sentiu-se despencar e ouviu a voz de Joe, "Edward, não!".
  Depois, não havia mais nada.
  Cathy se fora. 
  Michael se fora.
  Joe o abandonara.
  Só havia a frieza da água e a escurdão da morte.

Obs: texto de minha autoria, levemente inspirado pelo quadro "O Grito" de Edvard Munch.Se forem publicar, já sabem, né.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hey!, se você não comentar, como vou saber que passou por aqui? Deixe sua opinião e faça uma pessoa feliz ~voz campanha de solidariedade~